G1 lista 15 discos para conhecer a música africana
Seleção traz nomes como Fela Kuti, Miriam Makeba e Cesária Évora.
Ouça faixas dos artistas selecionados e confira o mapa da música africana.
Boa parte da música popular do ocidente tem alguma forma de influência
direta ou indireta da África. O violento tráfico de escravos para as
Américas levou também ritmos tradicionais que deram vida a estilos
variados, do blues ao samba, passando pelo jazz, salsa, rumba e dezenas
de outros gêneros.
Ouça um especial GloboRadio com os artistas selecionados pelo G1
Apesar disso, poucas pessoas fora do continente africano sabem o que é um likembé, uma morna ou um highlife. Aproveitando o clima da Copa do Mundo, disputada pela primeira vez na região, o G1 listou 15 álbuns para conhecer a música africana. Do mais tradicional ao mais moderno, a lista é um passeio por gêneros como o afrobeat e o kuduro, e destaca nomes importantes para a música do continente, como Fela Kuti, Ali Farka Touré e Miriam Makeba.
A lista foi elaborada a partir do livro “The Rough Guide to World Music
– Africa”, um dos melhores volumes sobre música africana disponíveis.
Com o espaço limitado para falar da música de um continente com 1 bilhão
de habitantes e 54 países, artistas e gêneros importantes ficaram de
fora – da Orchestra Baobab à Angelique Kudjo, do raï ao soukous.
Confira abaixo a lista completa
Apelidada de Mama África, a cantora sul-africana Zenzile Miriam Makeba tornou mundialmente conhecida a música do país depois do hit “Pata pata” — também registrada por Daúde e Carlinhos Brown em 1997.
Gravada originalmente em 1956, a música só estourou mesmo em 1967, quando uma compilação homônima foi lançada. O álbum tem um pouco de todos os estilos que consagrariam a cantora como uma das mais importantes do continente. Há faixas em inglês (como a balada “What is love” e “West wind”, que remete ao estilo de Nina Simone), em português (“Adeus, Maria Fulô”, parceria de Sivuca e Humberto Teixeira) e nos idiomas locais (caso de "Jol’inkomo" e da própria “Pata pata”).
Assim como Fela Kuti, Makeba foi uma intensa ativista política, o que lhe custou um exílio de 30 anos. A cantora era dada como atração certa na abertura da Copa do Mundo da África do Sul, mas faleceu em novembro de 2008, aos 76 anos.
Primeiro africano a se formar na Berklee College of Music, em Boston — de onde saíram vários jazzistas americanos —, o etíope Mulatu Astatke é o artífice por trás do que se convencionou chamar de Ethio Jazz, uma mistura da música tradicional etíope com o jazz americano.
Esta combinação resultou no álbum “Mulatu of Ethiopia”, de 1972, o primeiro que trouxe as melodias hipnóticas que caracterizam sua obra, mais distantes da pegada caribenha de suas primeiras gravações em território norte-americano.
Apesar de sua música ser eminentemente instrumental, com suas (poucas) canções espalhadas ao longo dos (poucos) álbuns, e consequentemente menos acessível ao grande público, Mulatu teve sua obra redescoberta em 2005, quando quatro de suas músicas foram incluídas na trilha do filme “Flores partidas” (“Broken flowers”), de Jim Jarmusch.
O cosmopolita saxofonista Manu Dibango é considerado o “embaixador musical de Camarões”. O músico já morou na França, Bélgica, Congo e Costa do Marfim, mas nunca abandonou suas raízes camaronesas, e ainda é amado no seu país natal.
Misturando o funk norte-americano com a makossa, ritmo pop camaronês, Dibango ajudou a criar a disco music moderna com sua faixa “Soul makossa”, de 1972. A batida hipnótica chamou a atenção do DJ David Mancuso, e a música virou um dos maiores hits do Loft, casa noturna responsável pela explosão disco em Nova York.
Durante as décadas seguintes, Dibango passou a ter um papel ainda mais importante na world music, tocando com MCs britânicos, grupos cubanos e bandas de salsa. Sua “Soul makossa” também seguiu sendo redescoberta de tempos em tempos, sampleada por Michael Jackson (em “Wanna be startin’ something”) e mais recentemente por Rihanna em “Don’t stop the music”.
Tocando apenas flautas e percussão, esse grupo de músicos faz parte de uma tradição centenária de música de transe sufi (vertente mística do islamismo). Escondidos na vila de Jajouka (ou Joujouka) em uma região montanhosa do norte do Marrocos, os músicos passam a arte de pai para filho.
O mundo ocidental começou a conhecer a tradição a partir dos relatos de escritores beats que visitaram a região nos anos 50, como William Burroughs e Brion Gynsin. Em 1968 Brian Jones, dos Rolling Stones, gravou pela primeira vez o grupo, mas o disco só foi lançado em 1971, após a sua morte.
O grupo se dividiu em dois após a morte do líder Hadj Abdessalem Attar. A versão liderada por Bachir Attar, filho de Hadj, ganhou as bênçãos do mundo pop e já gravou com artistas como o papa do free jazz Ornette Coleman, o guitarrista do Sonic Youth Lee Ranaldo e também com os Rolling Stones, na faixa “Continental drift” de 1989.
Nascido após a Segunda Guerra de uma mistura de música caribenha, swing e ritmos locais de Gana como o osibisaba, o highlife é um dos gêneros mais representativos da música da África ocidental.
Inicialmente tocado por big bands parecidas com os grupos de jazz norte-americanos, o highlife incorporou as guitarras elétricas nos anos 60, em um estilo clean e facilmente identificável, sempre acompanhado da percussão dançante. Mais tarde, nos anos 90, o gênero se fundiu com hip-hop e ragga, criando o “hiplife”.
A coletânea da série “Rough Guides” traz os artistas mais representativos das primeiras fases do estilo, com a orquestra de E.T. Mensah representando as “bandas dançantes” de highlife e grupos como Nana Ampadu & the African Brothers apresentando a fase posterior, dedicada às guitarras.
Multi-instrumentista, produtor, arranjador e ativista político, o nigeriano Fela Anikulapo Ransome Kuti foi o pioneiro do Afrobeat, estilo que funde jazz, funk e psicodelia aos tradicionais cânticos africanos. Entre incursões pela Europa, África e América, lançou quase 70 álbuns em 30 anos de carreira.
Um dos destaques de sua discografia é “Roforofo fight “, de 1972, que traz a essência do Afrobeat em quatro longuíssimas faixas — uma característica de sua obra. Percussão, metais e riffs de guitarras repetidos à exaustão fazem contraponto ao chamado “call-and-response” (“chamada e resposta”), entre voz principal e coro.
Sua conturbada vida pessoal lista algumas curiosidades: casou-se com 27 mulheres em uma mesma cerimônia; foi candidato à presidência da Nigéria; e foi preso ao desafiar o regime político corrupto do país. Fela Kuti morreu em 3 de agosto de 1997, aos 59 anos, em consequência de complicações decorrentes da aids.
Esta compilação de 12 faixas gravadas na primeira metade da década de 80 ganhou notoriedade por vários motivos: serviu de inspiração para “Graceland”, e Paul Simon; introduziu artistas dos guetos de Johanesburgo e Durban, como Mahlathini e Moses Mchunu, ao mainstream da música internacional; e apresentou ao mundo o gênero africano mbaqanga — um estilo popular, baseado em guitarrras ritmadas e sinuosas linhas de baixo.
O grupo vocal Ladysmith Black Mambazo, que mistura um pouco da tradição gospel americana à essência do canto original africano, também foi revelado graças à canção “Nansi imali”, incluída na coletânea — o conjunto acabou sendo convidado por Simon para participar de “Graceland” posteriormente.
“The indestructible beat of Soweto” fez tanto sucesso que chegou a ser reeditado várias vezes. Também deu origem a volumes posteriores, numa série batizada “The indestructible beat”, lançado pelo selo Earthworks.
O pequeno país de Burundi, encravado entre a República Democrática do Congo e a Tanzânia, mantém um dos mais tradicionais grupos percussivos do mundo.
Tradicionalmente ligados à realeza local, os Drummers of Burundi (nome que o grupo ganhou quando saiu em turnê pela Europa nos anos 80) pertencem a uma casta de músicos que se apresentam apenas em ocasiões especiais.
Os espetáculos incluem apenas dança e percussão, onde os músicos se reúnem em um semicírculo tocando seus tambores feitos de troncos de árvores e se revezando para tocar um tambor maior, no centro do palco.
As apresentações são tão intensas que nunca ultrapassam 40 minutos de duração, e já levaram o grupo ao redor do planeta. Eles serviram de inspiração para a criação do festival WOMAD, um dos principais eventos de world music, e já gravaram com artistas como Echo & The Bunnymen e Joni Mitchell.
Paul Simon é um artista norte-americano, mas não há como ignorar a belíssima reverência à música africana feita pelo cantor neste disco de 1986. O repertório conta com 11 canções, todas gravadas em parceria com músicos da África da Sul, Senegal, Nigéria, Malawi e Zimbabwe.
O que talvez seja o seu trabalho mais eclético — incluindo aí os anos ao lado de Art Garfunkel, com o qual formou a dupla folk Simon & Garfunkel nos anos 60 — é também considerado um dos pilares do que foi convencionado chamar de “world music”. Vendeu 14 milhões de cópias e ganhou o Grammy de Álbum do Ano de 1986, entre outros prêmios.
O maior êxito de “Graceland” é o equilíbrio entre a sonoridade pop e os elementos musicais africanos, como vocais à capella, percussão e bases de acordeon, afora participações especiais de Miriam Makeba (em “Under african skies”) e Ladysmith Black Mambazo (em “Diamonds on the soles of her shoes”), entre outros artistas africanos.
O próprio Simon diria mais tarde que considera a faixa-título a melhor música que já compôs.
Com sua voz anasalada e seu estilo único na guitarra, o músico malinês é considerado o “John Lee Hooker africano”. Touré trouxe o blues de volta às raízes africanas, fundindo o estilo com músicas típicas do caldeirão de ritmos que é o Mali – entre a África equatorial, o Saara e o Atlântico.
Touré se tornou um dos músicos africanos mais conhecidos em todo o mundo, e colaborou com artistas ocidentais como Ry Cooder e os Chieftains.
“The source”, gravado com participações do guitarrista norte-americano Taj Mahal em 1993, é um bom início para a música de Touré. Blues mais formais, como em “Mahini me”, se misturam com faixas mais próximas da de estilos árabes, como “Goye kur”, criando um novo mapa para a música de origem africana.
A cantora de 68 anos já cantava a melancolia dos amores desfeitos e o isolamento do arquipélago de Cabo Verde, onde nasceu, antes mesmo de completar 20 anos. Não à toa transformou-se na rainha da morna, o equivalente africano ao blues norte-americano ou ao fado português.
Como o próprio título sugere, a “diva dos pés descalços” — maneira como sobe ao palco, em solidariedade aos sem-teto e às mulheres e crianças pobres de seu país — reúne nesta coletânea lançada em 1995 algumas de suas mais belas mornas, com destaque para a faixa-título, “Destino negro” e “Separação”. Ao ouvi-lo, Caetano Veloso declarou Cesaria uma das cantoras mais influentes do mundo.
A relação com o Brasil, aliás, é bastante estreita: já gravou com o próprio Caetano, com Marisa Monte e Gal Costa. Além disso, já se apresentou no país por diversas vezes. Na primeira, em 1994, realizou um sonho: conheceu pessoalmente a veterana cantora carioca Ângela Maria, de quem é fã desde a adolescência.
Aos 68 anos, e mesmo depois de um AVC (acidente vascular cerebral) ocorrido durante turnê pela Austrália, em 2008, prossegue como uma das vozes mais representativas do continente africano.
Liderado pelo octagenário Mawangu Mingiedi, o coletivo de Kinshasa comanda festas na periferia da capital da República Democrática do Congo ao som de seus likembés (espécie de pianos de dedo, parentes da kalimba) amplificados artesanalmente.
Nascido próximo da fronteira com Angola em uma vila do grupo étnico bazombo, Mingiedi adaptou a música tradicional com a qual cresceu para o som do grupo.
Além de tocarem com artistas como Björk e Herbie Hancock, eles influenciam a música local, e já se tornaram sinônimos de banda de festa. “As pessoas falam, ‘fulano vai casar, a gente tem que contratar um konono’. Por isso somos o Konono Nº 1, somos os primieros”, explica Mingiedi em uma reportagem da revista “The Wire” em abril deste ano.
Misturando rock ocidental com ritmos tradicionais da região do deserto do Saara, os tuaregues do Tinariwen (“Desertos”, em Tamashek) usam a música como arma de resistência. O Tinariwen é uma criação de Ibrahim Ag Alhabib, músico nômade que viveu na região saariana de diferentes países do norte africano e que montou a banda para tocar em casamentos e festejos no início dos anos 80.
Influenciado por artistas como Jimi Hendrix e Santana, Alhabib foi um dos inventores do som moderno dos tuaregues, conhecido localmente como “guitar”. Ele também é um rebelde a favor da causa tuaregue, povo nômade do sahel (área entre as florestas equatoriais e o deserto do Saara) oprimido por diferentes ditaduras da região – membros do grupo já lutaram contra governos da Líbia, Mali e Algéria nos anos 80 e 90.
Celebrado por artistas como Thom Yorke (Radiohead) e Bono (U2), o grupo ultrapassou a fama no circuito da world music com o disco “Aman iman” (“Água é vida”), de 2007, com suas guitarras roqueiras – às vezes cheias de efeitos, como em “Assouf” – e vozes únicas, entre o lamento e a celebração.
Naturais de Mali, Amadou Bagayoko e Mariam Doumbia formam uma dupla de músicos cegos. Ela canta. Ele toca guitarra. Ficaram conhecidos por misturar uma incrível quantidade de estilos, que vão desde o blues típico de seu país até ritmos cubanos, egípcios e indianos. A partir dos anos 80, tornaram-se um dos projetos musicais mais influentes, originais e criativos da África Ocidental.
O álbum “Welcome to Mali” foi considerado um dos grandes lançamentos do ano de 2008. Produzido por Damon Albarn (Blur, Gorillaz), o disco traz 15 músicas que flutuam entre o pop contemporâneo e as raízes da música africana. Traz canções folk, mas sem dispensar elementos eletrônicos em parte do repertório. Foi considerado o disco do ano de 2008 pelo site “Metacritic”, que reúne resenhas e críticas especializadas em música, literatura, cinema, TV, games e artes.
Este ano, participaram do show de abertura da Copa do Mundo da África e lançaram a autobiografia “Away from the light of day”, publicada na Inglaterra pela Editora Route.
Divulgação)
Vários Artistas – “Akwaaba sem transporte”
Vários artistas - 'Akwaaba sem transporte' (Foto:
Criado nos anos 90 nos musseques (favelas) de Luanda por artistas como Tony Amado e Se Bem, o kuduro mistura a vertente mais acelerada da house music com ritmos locais como o kilipango e o semba. No início dos anos 2000, uma nova geração reinventou o estilo, adicionando elementos de hip-hop, ragga e música caribenha, revelando uma nova de geração de MCs.
O estilo chegou à Europa através da grande comunidade angolana de Portugal, e de lá ganhou o mundo, incluindo o Brasil – no carnaval de 2009 o grupo de samba duro baiano gravou uma faixa chamada “Kuduro”, em homenagem ao gênero.
Além das rimas, um dos elementos mais importantes do kuduro são as danças frenéticas com atenção especial nos quadris quase parados (daí o nome do estilo).
A compilação do selo francês Akwaaba Music é a primeira coletânea internacional de kuduro tipicamente angolano, trazendo alguns dos nomes mais importantes do gênero, como Puto Prata, Bruno M, Vagabanda, Noite e Dia e o DJ Killamu.
Ouça um especial GloboRadio com os artistas selecionados pelo G1
Apesar disso, poucas pessoas fora do continente africano sabem o que é um likembé, uma morna ou um highlife. Aproveitando o clima da Copa do Mundo, disputada pela primeira vez na região, o G1 listou 15 álbuns para conhecer a música africana. Do mais tradicional ao mais moderno, a lista é um passeio por gêneros como o afrobeat e o kuduro, e destaca nomes importantes para a música do continente, como Fela Kuti, Ali Farka Touré e Miriam Makeba.
Confira abaixo a lista completa
Miriam Makeba - 'Pata pata' (Foto: Divulgação)
Miriam Makeba – “Pata pata”Apelidada de Mama África, a cantora sul-africana Zenzile Miriam Makeba tornou mundialmente conhecida a música do país depois do hit “Pata pata” — também registrada por Daúde e Carlinhos Brown em 1997.
Gravada originalmente em 1956, a música só estourou mesmo em 1967, quando uma compilação homônima foi lançada. O álbum tem um pouco de todos os estilos que consagrariam a cantora como uma das mais importantes do continente. Há faixas em inglês (como a balada “What is love” e “West wind”, que remete ao estilo de Nina Simone), em português (“Adeus, Maria Fulô”, parceria de Sivuca e Humberto Teixeira) e nos idiomas locais (caso de "Jol’inkomo" e da própria “Pata pata”).
Assim como Fela Kuti, Makeba foi uma intensa ativista política, o que lhe custou um exílio de 30 anos. A cantora era dada como atração certa na abertura da Copa do Mundo da África do Sul, mas faleceu em novembro de 2008, aos 76 anos.
Mulatu Astatke - 'Mulatu of Ethiopia' (Foto:
Divulgação)
Mulatu Astatke – “Mulatu of Ethiopia”Divulgação)
Primeiro africano a se formar na Berklee College of Music, em Boston — de onde saíram vários jazzistas americanos —, o etíope Mulatu Astatke é o artífice por trás do que se convencionou chamar de Ethio Jazz, uma mistura da música tradicional etíope com o jazz americano.
Esta combinação resultou no álbum “Mulatu of Ethiopia”, de 1972, o primeiro que trouxe as melodias hipnóticas que caracterizam sua obra, mais distantes da pegada caribenha de suas primeiras gravações em território norte-americano.
Apesar de sua música ser eminentemente instrumental, com suas (poucas) canções espalhadas ao longo dos (poucos) álbuns, e consequentemente menos acessível ao grande público, Mulatu teve sua obra redescoberta em 2005, quando quatro de suas músicas foram incluídas na trilha do filme “Flores partidas” (“Broken flowers”), de Jim Jarmusch.
Manu Dibango - 'Soul makossa' (Foto: Divulgação)
Manu Dibango – “Soul makossa”O cosmopolita saxofonista Manu Dibango é considerado o “embaixador musical de Camarões”. O músico já morou na França, Bélgica, Congo e Costa do Marfim, mas nunca abandonou suas raízes camaronesas, e ainda é amado no seu país natal.
Misturando o funk norte-americano com a makossa, ritmo pop camaronês, Dibango ajudou a criar a disco music moderna com sua faixa “Soul makossa”, de 1972. A batida hipnótica chamou a atenção do DJ David Mancuso, e a música virou um dos maiores hits do Loft, casa noturna responsável pela explosão disco em Nova York.
Durante as décadas seguintes, Dibango passou a ter um papel ainda mais importante na world music, tocando com MCs britânicos, grupos cubanos e bandas de salsa. Sua “Soul makossa” também seguiu sendo redescoberta de tempos em tempos, sampleada por Michael Jackson (em “Wanna be startin’ something”) e mais recentemente por Rihanna em “Don’t stop the music”.
The Masters Musicians of Jajouka - 'The pipes of
Pan' (Foto: Divulgação)
The Master Musicians of Jajouka – “The pipes of Pan at Joujouka”Pan' (Foto: Divulgação)
Tocando apenas flautas e percussão, esse grupo de músicos faz parte de uma tradição centenária de música de transe sufi (vertente mística do islamismo). Escondidos na vila de Jajouka (ou Joujouka) em uma região montanhosa do norte do Marrocos, os músicos passam a arte de pai para filho.
O mundo ocidental começou a conhecer a tradição a partir dos relatos de escritores beats que visitaram a região nos anos 50, como William Burroughs e Brion Gynsin. Em 1968 Brian Jones, dos Rolling Stones, gravou pela primeira vez o grupo, mas o disco só foi lançado em 1971, após a sua morte.
O grupo se dividiu em dois após a morte do líder Hadj Abdessalem Attar. A versão liderada por Bachir Attar, filho de Hadj, ganhou as bênçãos do mundo pop e já gravou com artistas como o papa do free jazz Ornette Coleman, o guitarrista do Sonic Youth Lee Ranaldo e também com os Rolling Stones, na faixa “Continental drift” de 1989.
Vários artistas - 'The Rough Guide to highlife' (Foto:
Divulgação)
Vários artistas – “The Rough Guide to highlife”Divulgação)
Nascido após a Segunda Guerra de uma mistura de música caribenha, swing e ritmos locais de Gana como o osibisaba, o highlife é um dos gêneros mais representativos da música da África ocidental.
Inicialmente tocado por big bands parecidas com os grupos de jazz norte-americanos, o highlife incorporou as guitarras elétricas nos anos 60, em um estilo clean e facilmente identificável, sempre acompanhado da percussão dançante. Mais tarde, nos anos 90, o gênero se fundiu com hip-hop e ragga, criando o “hiplife”.
A coletânea da série “Rough Guides” traz os artistas mais representativos das primeiras fases do estilo, com a orquestra de E.T. Mensah representando as “bandas dançantes” de highlife e grupos como Nana Ampadu & the African Brothers apresentando a fase posterior, dedicada às guitarras.
Fela Kuti - 'Roforofo fight' (Foto: Divulgação)
Fela Kuti – “Roforofo fight”Multi-instrumentista, produtor, arranjador e ativista político, o nigeriano Fela Anikulapo Ransome Kuti foi o pioneiro do Afrobeat, estilo que funde jazz, funk e psicodelia aos tradicionais cânticos africanos. Entre incursões pela Europa, África e América, lançou quase 70 álbuns em 30 anos de carreira.
Um dos destaques de sua discografia é “Roforofo fight “, de 1972, que traz a essência do Afrobeat em quatro longuíssimas faixas — uma característica de sua obra. Percussão, metais e riffs de guitarras repetidos à exaustão fazem contraponto ao chamado “call-and-response” (“chamada e resposta”), entre voz principal e coro.
Sua conturbada vida pessoal lista algumas curiosidades: casou-se com 27 mulheres em uma mesma cerimônia; foi candidato à presidência da Nigéria; e foi preso ao desafiar o regime político corrupto do país. Fela Kuti morreu em 3 de agosto de 1997, aos 59 anos, em consequência de complicações decorrentes da aids.
Vários artistas - 'The indestructible beat of Soweto'
(Foto: Divulgação)
Vários artistas – “The indestructible beat of Soweto”(Foto: Divulgação)
Esta compilação de 12 faixas gravadas na primeira metade da década de 80 ganhou notoriedade por vários motivos: serviu de inspiração para “Graceland”, e Paul Simon; introduziu artistas dos guetos de Johanesburgo e Durban, como Mahlathini e Moses Mchunu, ao mainstream da música internacional; e apresentou ao mundo o gênero africano mbaqanga — um estilo popular, baseado em guitarrras ritmadas e sinuosas linhas de baixo.
O grupo vocal Ladysmith Black Mambazo, que mistura um pouco da tradição gospel americana à essência do canto original africano, também foi revelado graças à canção “Nansi imali”, incluída na coletânea — o conjunto acabou sendo convidado por Simon para participar de “Graceland” posteriormente.
“The indestructible beat of Soweto” fez tanto sucesso que chegou a ser reeditado várias vezes. Também deu origem a volumes posteriores, numa série batizada “The indestructible beat”, lançado pelo selo Earthworks.
Drummers of Burundi - 'Drummers of Burundi'
(Foto: Divulgação)
Drummers of Burundi – “Drummers of Burundi”(Foto: Divulgação)
O pequeno país de Burundi, encravado entre a República Democrática do Congo e a Tanzânia, mantém um dos mais tradicionais grupos percussivos do mundo.
Tradicionalmente ligados à realeza local, os Drummers of Burundi (nome que o grupo ganhou quando saiu em turnê pela Europa nos anos 80) pertencem a uma casta de músicos que se apresentam apenas em ocasiões especiais.
Os espetáculos incluem apenas dança e percussão, onde os músicos se reúnem em um semicírculo tocando seus tambores feitos de troncos de árvores e se revezando para tocar um tambor maior, no centro do palco.
As apresentações são tão intensas que nunca ultrapassam 40 minutos de duração, e já levaram o grupo ao redor do planeta. Eles serviram de inspiração para a criação do festival WOMAD, um dos principais eventos de world music, e já gravaram com artistas como Echo & The Bunnymen e Joni Mitchell.
Paul Simon - 'Graceland' (Foto: Divulgação)
Paul Simon – “Graceland”Paul Simon é um artista norte-americano, mas não há como ignorar a belíssima reverência à música africana feita pelo cantor neste disco de 1986. O repertório conta com 11 canções, todas gravadas em parceria com músicos da África da Sul, Senegal, Nigéria, Malawi e Zimbabwe.
O que talvez seja o seu trabalho mais eclético — incluindo aí os anos ao lado de Art Garfunkel, com o qual formou a dupla folk Simon & Garfunkel nos anos 60 — é também considerado um dos pilares do que foi convencionado chamar de “world music”. Vendeu 14 milhões de cópias e ganhou o Grammy de Álbum do Ano de 1986, entre outros prêmios.
O maior êxito de “Graceland” é o equilíbrio entre a sonoridade pop e os elementos musicais africanos, como vocais à capella, percussão e bases de acordeon, afora participações especiais de Miriam Makeba (em “Under african skies”) e Ladysmith Black Mambazo (em “Diamonds on the soles of her shoes”), entre outros artistas africanos.
O próprio Simon diria mais tarde que considera a faixa-título a melhor música que já compôs.
Ali Farka Touré - 'The source' (Foto: Divulgação)
Ali Farka Touré – “The source”Com sua voz anasalada e seu estilo único na guitarra, o músico malinês é considerado o “John Lee Hooker africano”. Touré trouxe o blues de volta às raízes africanas, fundindo o estilo com músicas típicas do caldeirão de ritmos que é o Mali – entre a África equatorial, o Saara e o Atlântico.
Touré se tornou um dos músicos africanos mais conhecidos em todo o mundo, e colaborou com artistas ocidentais como Ry Cooder e os Chieftains.
“The source”, gravado com participações do guitarrista norte-americano Taj Mahal em 1993, é um bom início para a música de Touré. Blues mais formais, como em “Mahini me”, se misturam com faixas mais próximas da de estilos árabes, como “Goye kur”, criando um novo mapa para a música de origem africana.
Cesária Évora - "Sodade" (Foto: Divulgação)
Cesária Évora – “Sodade – Les plus belles mornas de Cesária”A cantora de 68 anos já cantava a melancolia dos amores desfeitos e o isolamento do arquipélago de Cabo Verde, onde nasceu, antes mesmo de completar 20 anos. Não à toa transformou-se na rainha da morna, o equivalente africano ao blues norte-americano ou ao fado português.
Como o próprio título sugere, a “diva dos pés descalços” — maneira como sobe ao palco, em solidariedade aos sem-teto e às mulheres e crianças pobres de seu país — reúne nesta coletânea lançada em 1995 algumas de suas mais belas mornas, com destaque para a faixa-título, “Destino negro” e “Separação”. Ao ouvi-lo, Caetano Veloso declarou Cesaria uma das cantoras mais influentes do mundo.
A relação com o Brasil, aliás, é bastante estreita: já gravou com o próprio Caetano, com Marisa Monte e Gal Costa. Além disso, já se apresentou no país por diversas vezes. Na primeira, em 1994, realizou um sonho: conheceu pessoalmente a veterana cantora carioca Ângela Maria, de quem é fã desde a adolescência.
Aos 68 anos, e mesmo depois de um AVC (acidente vascular cerebral) ocorrido durante turnê pela Austrália, em 2008, prossegue como uma das vozes mais representativas do continente africano.
Konono No 1 - 'Congotronics' (Foto: Divulgação)
Konono Nº 1 – “Congotronics”Liderado pelo octagenário Mawangu Mingiedi, o coletivo de Kinshasa comanda festas na periferia da capital da República Democrática do Congo ao som de seus likembés (espécie de pianos de dedo, parentes da kalimba) amplificados artesanalmente.
Nascido próximo da fronteira com Angola em uma vila do grupo étnico bazombo, Mingiedi adaptou a música tradicional com a qual cresceu para o som do grupo.
Além de tocarem com artistas como Björk e Herbie Hancock, eles influenciam a música local, e já se tornaram sinônimos de banda de festa. “As pessoas falam, ‘fulano vai casar, a gente tem que contratar um konono’. Por isso somos o Konono Nº 1, somos os primieros”, explica Mingiedi em uma reportagem da revista “The Wire” em abril deste ano.
Tinariwen - 'Aman iman' (Foto: Divulgação)
Tinariwen – “Aman iman”Misturando rock ocidental com ritmos tradicionais da região do deserto do Saara, os tuaregues do Tinariwen (“Desertos”, em Tamashek) usam a música como arma de resistência. O Tinariwen é uma criação de Ibrahim Ag Alhabib, músico nômade que viveu na região saariana de diferentes países do norte africano e que montou a banda para tocar em casamentos e festejos no início dos anos 80.
Influenciado por artistas como Jimi Hendrix e Santana, Alhabib foi um dos inventores do som moderno dos tuaregues, conhecido localmente como “guitar”. Ele também é um rebelde a favor da causa tuaregue, povo nômade do sahel (área entre as florestas equatoriais e o deserto do Saara) oprimido por diferentes ditaduras da região – membros do grupo já lutaram contra governos da Líbia, Mali e Algéria nos anos 80 e 90.
Celebrado por artistas como Thom Yorke (Radiohead) e Bono (U2), o grupo ultrapassou a fama no circuito da world music com o disco “Aman iman” (“Água é vida”), de 2007, com suas guitarras roqueiras – às vezes cheias de efeitos, como em “Assouf” – e vozes únicas, entre o lamento e a celebração.
Amadou e Mariam - 'Welcome to Mali' (Foto: Divulgação)
Amadou & Mariam – “Welcome to Mali”Naturais de Mali, Amadou Bagayoko e Mariam Doumbia formam uma dupla de músicos cegos. Ela canta. Ele toca guitarra. Ficaram conhecidos por misturar uma incrível quantidade de estilos, que vão desde o blues típico de seu país até ritmos cubanos, egípcios e indianos. A partir dos anos 80, tornaram-se um dos projetos musicais mais influentes, originais e criativos da África Ocidental.
O álbum “Welcome to Mali” foi considerado um dos grandes lançamentos do ano de 2008. Produzido por Damon Albarn (Blur, Gorillaz), o disco traz 15 músicas que flutuam entre o pop contemporâneo e as raízes da música africana. Traz canções folk, mas sem dispensar elementos eletrônicos em parte do repertório. Foi considerado o disco do ano de 2008 pelo site “Metacritic”, que reúne resenhas e críticas especializadas em música, literatura, cinema, TV, games e artes.
Este ano, participaram do show de abertura da Copa do Mundo da África e lançaram a autobiografia “Away from the light of day”, publicada na Inglaterra pela Editora Route.
Divulgação)
Criado nos anos 90 nos musseques (favelas) de Luanda por artistas como Tony Amado e Se Bem, o kuduro mistura a vertente mais acelerada da house music com ritmos locais como o kilipango e o semba. No início dos anos 2000, uma nova geração reinventou o estilo, adicionando elementos de hip-hop, ragga e música caribenha, revelando uma nova de geração de MCs.
O estilo chegou à Europa através da grande comunidade angolana de Portugal, e de lá ganhou o mundo, incluindo o Brasil – no carnaval de 2009 o grupo de samba duro baiano gravou uma faixa chamada “Kuduro”, em homenagem ao gênero.
Além das rimas, um dos elementos mais importantes do kuduro são as danças frenéticas com atenção especial nos quadris quase parados (daí o nome do estilo).
A compilação do selo francês Akwaaba Music é a primeira coletânea internacional de kuduro tipicamente angolano, trazendo alguns dos nomes mais importantes do gênero, como Puto Prata, Bruno M, Vagabanda, Noite e Dia e o DJ Killamu.